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quarta-feira, 5 de maio de 2010

O Vento nas Velas





A Cadeira

A cadeira
 era um objecto raro ou mesmo desconhecido fora do espaço da Cristandaos universalizaram-na. O Japão não escapou a esta primeira vaga globalizadora.

João Paulo Oliveira e Costa

Objecto destinado ao descanso e ao convívio, a cadeira era também um símbolo de poder, pois o trono distinguia reis e imperadores. O banco era o assento mais comum, mas no tempo dos Descobrimentos a cadeira começava a vulgarizar-se. Diz Caminha que Pedro Álvares Cabral acolheu dois índios do Brasil na sua nau "sentado em uma cadeira, e uma alcatifa aos pés por estrado". 

A partir do século XVI, este objecto tornou-se também num símbolo de poder de muitos chefes africanos que contactavam com os Portugueses e na Índia foram experimentadas novas técnicas e novas matérias-primas, o que possibilitou, por exemplo, o aparecimento das cadeiras de palhinhas.

Cadeiras_Biombo Kobe City Museum


Chegados ao Japão logo os navegadores portugueses notaram que o ato de sentar voltava a ser problemático, até porque as refeições decorriam em torno de mesas muito baixas com os convivas ajoelhados, o que ainda hoje é muito desconfortável para a maioria dos ocidentais. Assim, por entre a panóplia de objetos que os nanbanjin introduziram no país do Sol Nascente contou-se a cadeira. Os autores dos biombos namban, tão atentos à novidade, retratam portugueses sentados em cadeiras desdobráveis, e mostram escravos ou criados de fidalgos e mercadores transportando essas cadeiras.

E também no Japão este novo objecto cedo foi experimentado como símbolo de poder. Em 1581, Oda Nobunaga, o grande guerreiro que iniciou a reunificação política do Império e que manteve uma relação amistosa com os Jesuítas, fez-se passear numa parada em Kyoto numa cadeira de estado em veludo, que lhe havia sido oferecida pelos missionários. Objecto nunca antes visto no centro do Japão, a cadeira dos portugueses realçava o poder do senhor da guerra.

Apesar de um século de convívio com os nanbanjin, os Japoneses continuaram a comer ajoelhados. A cadeira teve de esperar mais uns séculos para se tornar num objecto comum no país do Sol Nascente.

Ficha Técnica:


Coordenação
Cristina Castel-Branco e João Paulo Oliveira e Costa


Assistência Tecnica: Inês Pinto Coelho e Margarida Paes


Colaboradores
Alexandra Curvelo, Ana Fernandes Pinto, Leonilde Alfarrobinha, Pedro Canavarro



Expresso
03-05-2010

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