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segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

Homem em evolução deve "inquietar-se" com o planeta


por Lusa

Por muito que o Homem altere o clima, a Terra não parará de girar, mas a espécie humana, cuja evolução continua "subjugada" por biologia e ambiente, deve "inquietar-se" com o que faz ao planeta, afirma o especialista Yves Coppens.

Em entrevista à agência Lusa, o paleontólogo francês afirmou que "as mudanças climáticas fazem parte da história e as mudanças actuais não obstruem o planeta, mas podem obstruir a humanidade, não no corpo, mas nos hábitos".

"Se os mares subirem, as orlas costeitas estarão condenadas. Muitas populações vivem à beira do mar e será preciso que migrem, e os movimentos de população importantes causam sempre conflitos", frisou.

Referindo-se à maneira como a contínua "exploração empresarial" da Terra é hostil à diversidade das espécies, Yves Coppens defende que "devemos inquietar-nos com as actividades humanas que se verificam em detrimento do próprio Homem".

"Submetido" às leis da biologia e às mudanças no seu ambiente, quer físico quer cultural, o Homem "nunca deixou de evoluir", muitas vezes "de forma discreta", e o ritmo deverá continuar no futuro.

"O cérebro pode continuar a tornar-se mais complexo, mais bem irrigado, mais denso e também tornar-se mais volumoso", estima o palentólogo, afirmando que isso poderá causar problemas para as mulheres na altura do parto, mas que a própria evolução se encarregará de os resolver.

"As mulheres poderão não ter gravidezes tão longas. Em vez de nove meses, poderão ser seis ou oito meses - quem sabe? - e a criança será vulnerável e precisará de assistência durante mais tempo", afirmou, notando que as crias humanas já são "os pequenos mamíferos mais vulneráveis ou dependentes dos pais".

O tempo que as crianças passam à volta de "teclados e écrãs" poderá também ser um factor condicionante da evolução do cérebro, desenvolvendo a "prática táctil", o passo seguinte no percurso que começou com o polegar oponível à mão, permitindo aos antepassados do Homem o acto de agarrar.

Coppens, um dos descobridores, na década de 1970, do esqueleto de australopiteco "Lucy", que provou que os primeiros hominídeos começaram a andar erectos antes de o cérebro se desenvolver, já não acredita num "elo perdido", mas em juntar milhares de peças no "puzzle" da evolução, que ainda guarda muitos mistérios.

"Compreender os mecanismos da evolução" é hoje o principal objectivo de Coppens, com mais de cinquenta anos de carreira.

"O que gostaria de compreender é a maneira como os seres se transformam, as modalidades da evolução. Os fóssesis deram-nos muitos pontos de referência, ao longo da história humana, mas o que não compreendemos, porque é muito mais complexo, é a própria evolução", disse.

Para Yves Coppens, as respostas encontram-se no mundo "infinitamente pequeno dos genes, das moléculas, das células".

Aos jovens e estudantes portugueses, que muitas vezes esbarram na matemática e em outras disciplinas essenciais para as ciências, Yves Coppens recomenda que "não tenham medo da ciência".

"A ciência representa o conhecimento por excelência, e isso é liberdade. Quanto mais soubermos, mais livres somos de ter retorno sobre a realidade das coisas", disse, referindo-se a um caminho que continua milhares de anos depois de um antepassado da espécie ter tido a "audácia" de, pela primeira vez, pegar em dois calhaus e esculpir para si uma ferramenta com a qual começou a mudar o seu mundo.

In DN Ciência
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