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quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

“Estamos contaminando Marte”, diz pesquisador


Planeta Vermelho visto pelas lentes do telescópio Hubble (Hubble Telescope)


Para historiador de astrobiologia americano, missão russa que lançará nave à Marte em 2011 representa risco para a busca de vida extraterrestre

Segundo Agência Espacial Russa, a experiência vai comprovar uma importante teoria, que supõe que a vida possa viajar entre planetas em rochas expelidas de suas superfícies, e ajudará a entender as possibilidades da vida no Universo.

Em artigo publicado nesta semana na revista científica NewScientist, o pesquisador americano Barry E. DiGregorio alerta para um tipo de poluente espacial inusitado: vida terrestre.


Segundo ele, uma missão russa que enviará bactérias para Marte em 2011 estaria atrapalhando a busca por vida extraterrestre, uma vez que os microrganismos podem, mais tarde, ser confundidos com seres vivos locais.


O pesquisador estima que um trilhão de esporos de bactérias já tenham sido enviados por meio de naves espaciais e satélites não esterilizados nos últimos 40 anos para exploração da Lua, Júpiter, Marte e outros cometas e asteróides.


“Vários estudos têm discutido se os esporos terrestres são capazes de se disseminar em Marte ou não. Nós ainda não sabemos a resposta, então, por que arriscar contaminar (com formas de vida externas) o planeta mais parecido com a Terra em nosso sistema solar?”, defende em seu artigo.

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A realidade não foi sempre essa, explica o historiador de astrobiologia. No início da exploração espacial, as naves eram obrigadas a passar por rigorosos processos de esterilização antes de deixar a atmosfera terrestre. Em 1967, inclusive, foi escrito um tratado da ONU que determinava normas sobre o tema.


Os cuidados foram abandonados pouco a pouco e o medo mais recente daqueles que compartilham a opinião de DiGregorio é uma nave que será lançada na segunda metade de 2011 pela Agência Espacial Russa.

Seu destino: a maior lua de Marte, Phobos. Sua missão: levar bactérias vivas para fora do sistema solar e trazê-las de volta com vida. “Isso não é uma violação do tratado de 1967?”, alega DiGregorio.


Segundo os proponentes da experiência, a volta das bactérias vai comprovar uma importante teoria, chamada transpermia, que supõe que a vida possa viajar entre planetas em rochas expelidas de suas superfícies. Para os defensores dessa posição, o teste de três anos ajudaria a entender as possibilidades da vida no Universo.


“Essa teoria é, no mínimo, superficial. Todos os meteoritos marcianos encontrados na Terra gastaram milhões de anos no espaço antes de chegar à Terra”, contra-argumenta DiGregorio.


“Nós, seres humanos, temos um talento único para contaminar ambientes intocados. Colocamos milhões de toneladas de poluentes na atmosfera a cada ano. Envenenamos nossos solos, rios, lagos e riachos com resíduos químicos e radioativos.

É alguma surpresa que também estejamos contaminando corpos celestes intocados com esporos de bactérias?”


Barry E. DiGregorio é pesquisador científico e escritor aeroespacial desde 1988. Seus artigos sobre exploração espacial e astrobiologia têm aparecido em revistas e livros de todo o mundo.

É autor de Mars: The Living Planet (Marte: o planeta vivo), diretor do Comitê Internacional contra o Retorno de Amostras de Marte e historiador de astrobiologia. Possui uma das bibliotecas mais extensas e relevantes sobre o tema no Nordeste dos Estados Unidos.


Veja
29/12/2010

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