Por Carmen Munari e Fernando Exman
BRASÍLIA (Reuters) - A ministra Dilma Rousseff (Casa Civil) foi lançada pelo PT neste sábado, por aclamação, para disputar a sucessão presidencial nas eleições de outubro. Na presença do presidente do PMDB, deputado Michel Temer, provável vice na chapa, Dilma, ao aceitar a indicação, defendeu um governo de coalizão.
No discurso perante petistas e aliados, Dilma reafirmou os compromissos econômicos do atual governo e prometeu avançar ainda mais na transformação social do país.
A ministra, escolhida pelo presidente Luiz Inácio Luiz Lula da Silva em meados de 2008 para tentar sucedê-lo, deve concorrer com o tucano José Serra, governador de São Paulo, que lidera as pesquisas de intenção de voto com 36 por cento, enquanto a petista tem 25 por cento.
Ela disse que sua coragem e determinação para disputar a eleição vêm do apoio que recebe do PT, do presidente Lula e das legendas que devem apoiá-la.
"Com eles quero continuar nossa caminhada. Participo de um governo de coalizão. Quero formar um governo de coalizão", destacou em seu discurso, no fechamento do 4o Congresso Nacional do PT.
Na véspera, uma corrente do PT havia sugerido acrescentar o PMDB ao texto de tática eleitoral do partido, o que foi derrubado pelos delegados com a justificativa de que não poderiam indicar apenas uma legenda.
"Temos rumo, experiência e impulso para seguir o caminho iniciado por Lula. Não haverá retrocesso, nem aventuras. Mas podemos avançar muito mais. E muito mais rapidamente", disse Dilma, acrescentando que quer manter e aprofundar "aquilo que é a marca do governo Lula, seu compromisso social".
Quanto às críticas em relação ao aumento da máquina estatal e à expectativa de que esta seja uma marca de seu eventual governo, Dilma defendeu a reorganização do Estado e a política de contratações.
"Alguns falam todos os dias de 'inchaço da máquina estatal'. Omitem, no entanto, que estamos contratando basicamente médicos e profissionais de saúde, professores e pessoal na área da educação, diplomatas, policiais federais e servidores para as áreas de segurança, controle e fiscalização. Escondem, também, que a recomposição do corpo de servidores do Estado está se fazendo por meio de concursos públicos", disse.
ESTABILIDADE ECONÔMICA
A ministra também aproveitou para dar um recado ao mercado: pregou a preservação da estabilidade e das políticas macroeconômicas do atual governo, pontos citados por Dilma como parte da "herança bendita" que será deixada pelo governo Lula.
"Vamos manter o equilíbrio fiscal, o controle da inflação e a política de câmbio flutuante", assegurou.
Indicou ainda que reforçará a fiscalização da execução orçamentária e realizará as reformas tributária e política.
Dilma, economista de 62 anos, admitiu que não imaginava disputar a Presidência, mas garantiu que se sente preparada. "Jamais pensei que a vida me reservasse tamanho desafio. Mas me sinto absolutamente preparada para enfrentá-lo --com humildade, com serenidade e com confiança."
A ministra, que ingressou no PT apenas em 2001, dirigiu-se aos petistas como velhos conhecidos.
"Estamos celebrando os 30 anos do PT... Em um período histórico relativamente curto mudamos a cara de nosso sofrido e querido Brasil. O PT cumpriu essa tarefa porque não se afastou de seus compromissos originais. Soube evoluir. Mudou, quando foi preciso. Mas não mudou de lado."
Vestida com uma blusa vermelha e calça escura, Dilma citou no discurso 21 vezes o nome de Lula, que defendeu a aprovação de sua candidatura perante os 1.350 delegados do PT que, junto a convidados, somavam quase 3 mil pessoas.
"Tivemos um grande mestre. O presidente Lula nos ensinou o caminho", agradeceu.
Dilma, que saiu no ano passado de um tratamento contra o câncer, também mandou recados à oposição. Ex-presa política durante o regime militar, ela rebateu os que veem ameaças à democracia em medidas ou propostas do atual governo. Segundo ela, basta ler os jornais para ver que a oposição fala livremente.
"Preferimos as vozes injuriosas e caluniosas da oposição ao silêncio das ditaduras."
Dilma destacou ainda que o presidente Lula negou-se a tentar um terceiro mandato.
Ao concluir seu discurso, a ministra ressaltou que a missão que estava aceitando naquele momento não é só dela.
"A tarefa de continuar mudando o Brasil é de milhões. Somos milhões, vamos até a vitória."
VAI APRENDER
Na passagem que mais emocionou a plateia, momento em que ficou com os olhos marejados, Dilma defendeu a democracia brasileira e lembrou ex-companheiros mortos na luta contra a ditadura (1964-1985).
"Nunca mais viveremos numa gaiola, numa jaula ou numa prisão", sublinhou.
Para o ex-prefeito de Belo Horizonte, Fernando Pimentel, que ajudou a redigir o texto, o discurso foi adequado para a ocasião.
Mas, para o ministro Paulo Bernardo (Planejamento), a pré-candidata ainda precisa de um aprendizado para se comunicar com o público, principalmente se comparada com a facilidade exibida pelo presidente Lula.
"Dilma não tem ainda a maturidade em termos de discurso e de articulação que o presidente Lula tem, mas ela vai aprender rápido", disse Bernardo.
MESMO LADO
Na defesa de sua candidatura, Lula ressaltou conquistas de seu governo com qualidades da petista.
"Ela nunca, em nenhum momento, teve dúvida de que lado deveria estar", disse Lula.
Ao falar das suas características, o presidente não deixou de lado a fama de durona de Dilma, ressaltando esse traço da sua personalidade como uma de suas grandes qualidades.
"Ela é uma pessoa, eu diria, rigorosa", lembrou Lula. "Isso é a grande virtude, é ser rigorosa no trato das coisas públicas. Como fiscalizadora do presidente da República junto ao restante do governo, ela tem que ser dura", completou, antecipando que Dilma deverá disputar dois mandatos.
A "mãe do PAC", como foi batizada por Lula em 2008, ainda terá seu nome chancelado em junho, na convenção do PT. Ela só deve deixar o ministério no início de abril.
Coube ao marqueteiro João Santana organizar o evento, o que incluiu a decoração do salão do Centro de Convenções Ulysses Guimarães, onde foi realizado o congresso. Dois gigantescos painéis traziam o nome "Dilma" e flores vermelhas decoraram o palco, que recebeu pétalas de papel picado.
O vice-presidente José Alencar e inúmeros ministros compareceram ao lançamento da pré-candidatura de Dilma.
(Reportagem adicional de Maria Carolina Marcello)
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